Luiz Valério, Writer
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tenho o direito de ser clark kent

31/7/2005

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Utilizo esta analogia extraída das histórias em quadrinhos para simbolizar meu desejo de ter o direito de ser uma pessoa normal por mais tempo em minha vida.

Estamos todos inseridos em uma tremenda roda viva que nos comprime, oprime, espreme e nos cobra para sermos super-homens o tempo todo.


Esta situação é ainda mais acentuada nos grandes centros urbanos onde a competição por um lugar ao sol é extremamente elevada, mas nem por isso significa que as pessoas que vivem em cidades de menor porte estejam totalmente isentas deste tipo de situação. É provável que as demandas sejam distintas, mas nem por isso deixem de existir.

No entanto, é importante ressaltar, que nem mesmo o super-homem – o personagem – o é em tempo integral.

Ele, na verdade, passa grande parte do tempo como Clark Kent, um cidadão comum, com um trabalho normal, uma namorada – ou um amor platônico, dependendo da versão – e uma família.

Diante disso, o que considero essencial é que nós procuremos a nos auto-conceder o direito de sermos também mais normais e menos super porque não é possível ser assim o tempo todo.

Inúmeras vezes assumimos as diversas demandas externas como sendo legitimamente nossas e embarcamos em um processo de auto-flagelação psicológica quando, por alguma razão, não conseguimos dar conta de tudo.

Se na ficção, a única coisa capaz de deter ou enfraquecer o super-homem é um fragmento de meteoro verde chamado kriptonita, nessa analogia, a nossa “kriptonita” está alojada internamente e, desta forma, pode ser muito mais poderosa e destrutiva do que qualquer elemento externo a nós.

Portanto, reivindique seu direito de ser “Clark Kent” por mais tempo. Mas esta reivindicação tem de ser feita a si próprio e não aos outros porque o ambiente apenas mostra, divulga e estimula o uso da roupa de super-homem, mas a decisão de vesti-la é individual e, sendo assim, a atitude de usá-la por um tempo menor tem de ser também individual.

Você verá que desta forma será capaz de “voar” muito mais do que com a roupa de super-homem, a qual mesmo com sua capa vermelha reluzente pode se tornar extremamente pesada.

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    Luiz Valério

    Independent writer with a passion for traveling, photography and connecting them to literature.

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